
Com apenas 2% da visão, Marilette jogo bocha e dominó no Centro de Convivência da Terceira Idade e frequenta um Grupo de Idosos
Todas as terças e quintas-feiras, o Centro de Convivência da Terceira Idade (CCTI), mantido pela Associação Feminina de Assistência Social de Criciúma (Afasc), recebe uma visita mais que especial. Marilette Valentim Cândido, carinhosamente apelidada de Lette, é presença marcante no local, não apenas pelo bom humor e simpatia, mas também por sua força, dedicação e exemplo de superação.
Aos 65 anos e com apenas 2% da visão, Lette é inspiração para todos ao seu redor. Nas terças-feiras à tarde, ela vai ao CCTI jogar dominó; já nas quintas-feiras pela manhã, é uma das estrelas das partidas de bocha. “Eu amo estar aqui. Não vejo a hora de vir para cá”, conta, com um sorriso contagiante.
Além de ser uma das alunas mais engajadas e entusiasmadas do lugar, ela participa ativamente do Grupo de Idosos, também da Afasc, no bairro onde mora. “Eu nasci com essa deficiência, é um problema hereditário. Aqui, me senti acolhida. Eu era uma pessoa depressiva e, graças a Deus, me libertei, um dos motivos é o grupo de idosos”, diz.
A adaptação no CCTI não foi um desafio. Segundo o professor de bocha, Jeovane Santana, a energia positiva que Marilette transmite, junto ao sorriso de orelha a orelha e o espirito de união, contagiou os colegas. "Quando ela chegou, reuni os alunos e expliquei que seria um pouco diferente. Eles entendem super bem, sabem da deficiência dela e isso não atrapalha o jogo. Pelo contrário, a gente até brinca que ela joga melhor do que eles. Basicamente é isso, saber conviver", afirma.
Acolhimento, cuidado e inclusão
A presença de Lette vai além das atividades esportivas. Para Adrian Miguel, coordenador do CCTI, ela é exemplo de comprometimento e organização. “A Marilette é muito responsável, chega sempre no horário e é muito participativa. Mesmo com apenas 2% de visão, é 100% de dedicação. Ter ela conosco reforça que o Centro de Convivência não é somente um local 60+, mas sim um local intergeracional, de inclusão e, principalmente, um local que tem equidade”, frisa.
Elisabete Nazário Flausino é prima e amiga de Lette. As duas moram no mesmo bairro e compartilham encontros casuais, como as missas aos domingos. Mas é no CCTI que aproveitam para colocar o papo em dia. “Ela não vê obstáculos, mesmo com a deficiência, segue em frente. É uma fonte de inspiração para todos nós, porque já chega animando todo mundo, é uma pessoa muito querida por todos. Às vezes, a gente pensa em faltar por conta de uma dorzinha na perna, no braço, mas ela está sempre aqui”, ressalta.
Para a presidente de honra da Afasc, Gisele Bolan, a história da Marilette representa exatamente o que a Associação busca proporcionar com o seu trabalho: acolhimento, pertencimento e valorização da vida em todas as suas fases. “Ver o brilho nos olhos dela e o impacto que tem na vida dos colegas do CCTI é a prova de que estamos no caminho certo. Cada idoso atendido é protagonista da sua própria história, e é nossa missão garantir que eles se sintam vistos, ouvidos e respeitados. A Lette nos ensina, a cada encontro, que limites físicos não impedem grandes conquistas quando há amor, incentivo e oportunidade”, conclui.
Com a dedicação e o envolvimento nas atividades, Marilette Valentim Cândido se tornou uma referência no CCTI ao mostrar que a superação vai além das limitações físicas. Seu exemplo de comprometimento contribui para o ambiente colaborativo e acolhedor do local, reforçando o impacto positivo das ações promovidas pela Afasc. A presença de Lette é, sem dúvida, um reflexo do espírito de união e participação que caracteriza o trabalho da instituição.
Texto e fotos: Manuela Linemburger